Por Matheus Jesus 1

 

Apesar da concretização do Acordo de paz entre as FARC e o governo colombiano em 2016, a violência política persiste no panorama colombiano. Atualmente, a população civil – com destaque para os povos indígenas, as comunidades afrodescendentes, a população rural e os defensores dos Direitos Humanos - aparece como principal vítima de mais um prolongado ciclo de violência. Geograficamente, os conflitos se concentram nos departamentos de Antioquia, Cauca, Chocó e Nariño. Nestas regiões, a forte presença de mecanismos econômicos ilegais, o difícil acesso e relativo isolamento geográfico, além do abandono por parte do Estado, aprofundam problemas já inerentes às suas debilidades econômicas e sociais.

  • Após algumas tentativas de acordos de paz com as FARC durante as décadas de 80 e 90, foram poucos os avanços ao longo da presidência do conservador Uribe, entre 2002 e 2010. Contudo, no final do ano de 2016 ocorreu a histórica conclusão do Acordo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo de Juan Manuel Santos.
  • Em 29 de agosto de 2019, os históricos dirigentes das FARC, Iván Marquez e Jesús Santrich, anunciaram retorno às armas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular (FARC-EP). A retomada de uma fração minoritária da guerrilha foi justificada por uma suposta traição do Estado ao Acordo de paz.
  • Na esteira do recrudescimento da violência no país, pode-se considerar que há uma onda de agressões em curso desde a assinatura do acordo de paz, majoritariamente no departamento de Cauca, devido aos conflitos entre grupos rivais visando ocupar negócios antes em mãos das FARC, vinculados ao narcotráfico, à mineração ilegal, além de extorsões.
  • Foi realizada uma greve nacional no dia 21 de novembro, inicialmente contra o chamado ´´Paquetazo de Duque´´, que almejava aprovar uma reforma para flexibilizar as pensões e as leis trabalhistas. Mas outros setores da sociedade também se uniram e foram adicionadas demandas vinculadas à implementação total do Acordo de paz e o fim dos assassinatos de lideranças sociais. 

 

Existem desafios críticos para a construção de uma paz sustentável na Colômbia, sendo importante construir pontes entre comunidades historicamente marginalizadas e o governo. A implementação total do Acordo de Paz é uma oportunidade inestimável para reconhecer as demandas dessas comunidades. A Colômbia está em um momento de transição, no qual o aumento dos riscos à segurança reflete as disputas entre atores armados, a fim de preencher os vazios deixados pela desmobilização das FARC-EP. A crise na Venezuela contribui para a instabilidade da região, na medida em que interage com o recrudescimento da guerrilha e outros grupos ilegais na fronteira entre os dois países, potencializando atividades ilícitas e o recrutamento de novos membros para as facções guerrilheiras. Há uma demanda popular pelo fim, ou ao menos a mitigação, da violência no país, e os correntes protestos podem servir como uma forma de pressionar a opinião pública nacional, e até mesmo internacional, para que medidas mais eficientes de contenção da espiral de violência sejam tomadas.

 

O recrudescimento da violência política na Colômbia é fator cujo seguimento é de grande importância para que se descortinem as perspectivas de estabilidade nos países vizinhos e na faixa setentrional da América do Sul pelos diversos e complexos vínculos das dinâmicas políticas, econômicas, sociais e da economia dos ilícitos com os países vizinhos e com os crimes transnacionais. 

 

1 Graduando em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), pesquisador da linha Entorno Estratégico Brasileiro, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional (GEPSI).