Por Luís Victor da Silva Costa 1

 

No dia 21 de novembro, a Colômbia passou a ser palco de intensas manifestações sociais por todo o país que duraram cerca de três semanas. Os protestos foram convocados pelos sindicatos, que receberam o apoio do movimento estudantil, organizações indígenas, movimentos sociais e partidos políticos oposicionistas, formando talvez a maior onda de manifestações no país desde os anos 1970. Apesar de pacíficos, os protestos foram reprimidos pelo Esquadrão Móvel Anti-distúrbios (ESMAD) resultando na morte de 4 manifestantes. As principais reivindicações se concentraram em 4 pontos: melhoria do ensino público, o cumprimento do acordo de paz com as FARC, fim dos assassinatos de líderes sindicais, indígenas e ex-guerrilheiros, além da contrariedade às medidas de austeridade do governo.

 

1- O sistema de ensino público colombiano sofre com a falta de investimentos, principalmente nas universidades e o custo elevado do acesso à educação no setor privado faz com que grande parte dos jovens não consigam cursar o ensino superior. Os manifestantes pediam mais investimentos para o setor, além do combate à corrupção nas universidades e fim da violência policial contra estudantes.  

 

2-  O acordo de paz entre o governo Colombiano e as FARC foi assinado em 2016, durante a presidência de Juan Manuel Santos. No entanto, em 2018, Iván Duque, grande opositor do acordo, foi eleito presidente com um discurso crítico às negociações de paz e tem descumprido medidas acordadas, além de vetar trechos da lei que serviu de base regulamentar para um sistema especial de justiça voltado para lidar com ex-guerrilheiros e envolvidos nos conflitos, por considerar o sistema incentivador de impunidade.

 

3-  Desde que Ivan Duque assumiu a presidência, cerca de 160 ex-guerrilheiros e centenas de lideranças indígenas, de movimentos sociais e sindicais já foram assassinados, principalmente por grupos paramilitares e narcotraficantes. Os manifestantes pediam que o governo tomasse medidas que garantissem a proteção desses indivíduos.

 

4-  Os sindicatos se opõem ao projeto de reforma tributária, pois afirmam que a mesma favoreceria as classes mais ricas em detrimento da classe média. Também acusam o governo de querer acabar com os fundos de pensão, aumentar a idade mínima para se aposentar e de planejar reduzir o salário mínimo, porém o governo nega que hajam propostas nesse sentido. 

 

 

Apesar de fazer parte de um panorama comum e atual na América do Sul, essa onda de protestos na Colômbia possuiu motivações de caráter quase estritamente local e com pouca capacidade de expansão regional. Por isso, e pela baixa integração entre a sociedade colombiana e a brasileira, a realidade deste país oferece pouco ou nenhum risco de grandes modificações ou influências à conjuntura brasileira. No entanto, o cenário de enfraquecimento do processo de paz levanta a possibilidade de complicações nas fronteiras amazônicas, potencializadas também pela crise na Venezuela, que é rota de conflitos guerrilheiros, do narcotráfico e atualmente de intensos fluxos migratórios. Por essa razão, mais que a possibilidade de contágio, torna-se de grande relevância atentar para o contexto de crescente instabilidade na Colômbia exemplificado pelas manifestações em apreço. Os crescentes indicadores de violência no país concomitantemente ao estancamento do processo de paz e os sinais de insatisfação de amplos setores da sociedade com o desempenho político e econômico do governo colombiano representam importante fator de instabilidade no flanco noroeste e norte da América do Sul. 

 

1 Graduando do curso de Relações Internacionais, na Universidade de Brasília (UnB). Pesquisador da linha Entorno Estratégico Brasileiro, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional (GEPSI).