Por Jaiandra Maina Queiroz Furtado 1      

 

Em meio à um cenário de instabilidade política em diversos países da América do Sul, cada qual com suas especificidades, o Uruguai perpassou, em 2019, um processo eleitoral estável que modificou, consideravelmente, o cenário político do país. 

 

  • Ao longo da construção histórica do Uruguai, observou-se a consolidação de características político-sociais voltadas para o conservadorismo e o militarismo. Por anos, o país foi conduzido por dois grupos políticos, colorados e blancos, que protagonizaram a estruturação de um sentimento coletivo nacional. 

 

  • Entre um longo período de revezamento entre governos ditatoriais e militares, os grupos políticos de esquerda sobreviviam à margem do sistema ditatorial, fortalecendo-se com as insatisfações populares. A partir da redemocratização, os movimentos progressistas ganharam crescente protagonismo por meio do partido Frente Ampla que, somente em 2004, ascendeu ao poder, rompendo com um padrão histórico de alternância partidária. 

 

  • O aumento da violência no Uruguai, mesmo que num padrão abaixo daquele esboçado por outros países da América do Sul, obteve significativa importância nas eleições de 2019. Conforme o Ministério do Interior, os índices de homicídios aumentaram em 45% em 2018, já os de roubo com violência 53% e os sem violência 23%, causando apreensão entre os uruguaios que expressaram isso por meio das eleições.    

 

  • Diante do enfraquecimento eleitoral da Frente Ampla, o Partido Nacional, o Cabildo Abierto e o Partido Colorado uniram-se no segundo turno, adequando os discursos em um posicionamento mais à direita. Com o intuito de angariar maior notoriedade no país, Lacalle Pou (Partido Nacional) empunhou a agenda de segurança pública como prioridade, na qual comprometeu-se em resolver os problemas valendo-se de medidas e soluções práticas, como dispor um maior número de policiais nas ruas, além de fechar as fronteiras para combater o tráfico de drogas.

 

Diante dessas circunstâncias, percebe-se a reviravolta no cenário político-social no Uruguai, visto que a Frente Ampla, que há anos hegemonizava o cenário eleitoral do país, perdeu o pleito para uma coalizão dirigida por setores da direita uruguaia, que desta vez lograram catalisar setores centristas ao seu lado. Ainda assim, a esquerda uruguaia demonstra resiliência, posto que, mesmo com uma coalizão diminuta, garantiu uma diferença ínfima entre os dois candidatos:50,79% dos votos foram para Lacalle Pou, do Partido Nacional, e 49,21% para Daniel Martínez, da Frente Ampla.          

 

    O resultado do pleito eleitoral terminou por alinhar o Uruguai à tendência de enfraquecimento das esquerdas no subcontinente. Contudo, um fator saliente na atual conjuntura daquele país é o apontado aumento da criminalidade em uma sociedade reconhecida por seus indicadores de criminalidade abaixo da média sul-americana, aumento que se prende também à intensificação do tráfico de drogas nos últimos anos concomitantemente à implementação das medidas de descriminalização do consumo e o controle, pelo Estado, da oferta de maconha para uso individual e recreativo e postas em campo no governos de José Mujica. Nesse sentido, o Uruguai tende a se integrar mais ativamente às dinâmicas de insegurança regional associadas ao tráfico de drogas ilícitas. Cumpre destacar que a redução do tráfico de maconha era precisamente um dos objetivos das medidas acima referidas e adotadas pelo então Presidente José Mujica. 

 

Graduanda em Relações Internacionais na Universidade Federal de Roraima (UFRR), pesquisadora da linha Entorno Estratégico Brasileiro, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional (GEPSI).